segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Rabiscaria

Carlos Filho Designer, formado em Comunicação Social - Rádio e TV pela UFG e pós-graduado em Design
Estratégico pelo Istituto Europeo di Design. Atuo desde 2000 com design e desenvolvimento web, sou diretor do Rabiscaria e coordenador de mídia digital do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.

Foto: Anne Vilela



1 - Um de seus projetos (Rabiscaria) é uma parceria com o artista plástico Mateus Dutra, fala como nasceu a idéia de vocês.
A ideia inicial nasceu quando vi que muitos amigos meus, ilustradores, produziam coisas muito boas e deixavam guardadas em casa por não ter o que fazer com elas. Naquela época, nos idos de 2001, ainda não era tão grande o uso da internet e de redes sociais, e o crowdsourcing – o conhecimento gerado pela multidão – ainda não havia surgido como teoria. Como eu já era desenvolvedor naquela época, queria fazer um site para que cada um deles pudesse colocar suas obras online, numa espécie de exposição virtual. Por vários fatores – o pior deles, financeiro , a ideia ficou guardada. Foi só quando entrei na pós-graduação em Design Estratégico do Istituto Europeo di Design que vi que aquela ideia poderia ser executada, com algumas atualizações. Montei um esboço do plano e do modelo de negócios em parceria com a designer Dani Lima, mas precisava de um nome. Como o Mateus Dutra já havia me “presenteado” com um nome pra outro projeto, o procurei para conversar sobre a curadoria do projeto e também no nome. Rabiscaria era o nome do projeto pessoal dele, e resolvemos juntar a ideia e o nome, que casaram muito bem. Aí surgiu o Rabiscaria (www.rabiscaria.com.br).

2  - Carlos você é um curioso constante da sua área e está com uma novidade para os goianos que é o projeto Rabiscaria no Catarse, explica pra gente essa nova forma de financiamento.
O Catarse (www.catarse.me) foi criado por 3 empreendedores brasileiros (Diego Reeberg e Luis Otávio Ribeiro, do próprio Catarse, e Daniel Weinmann, da Softa Consultoria). É o primeiro portal de financiamento colaborativo do Brasil, o crowdfunding. Ele funciona assim: você cadastra seu projeto criativo, diz quanto precisa para tirá-lo do papel, define um prazo para que ele seja financiado e determina quais recompensas exclusivas serão dadas aos apoiadores. Qualquer pessoa que acreditar na sua ideia pode contribuir com uma quantia, de no mínimo 10 reais, e receber uma recompensa exclusiva por isso. No final do prazo determinado, caso o projeto tenha conseguido o valor pedido, ele será financiado e os apoiadores ganham as recompensas. Se não conseguir, o dinheiro é devolvido para quem apoiou, dando segurança pra todo mundo. Fora do país o crowdfunding já é um sucesso, com sites como o Kickstarter (http://www.kickstarter.com/).

3 - Quem quer participar com algum trabalho de design tem abertura pra mandar o trabalho?
O Rabiscaria é uma plataforma essencialmente de crowdsourcing voltada para o design. Qualquer pessoa pode enviar seus trabalhos para o site, seja profissional, amador, estudante médico, fazendeiro. Quem irá aprovar ou não a produção da arte em escala é a própria comunidade do site. O mais legal disso é que o artista recebe royalties sobre cada venda feita pelo site ou nas edições do Rabiscaria Live. Assim, a gente cria um ciclo sustentável de novas ideias e novos artistas.

4 - O Mateus Dutra tem outros trabalhos pessoais e claro que você também, fala sobre seus outros trabalhos e projetos.
Tenho um estúdio de design e web há 10 anos que leva meu nome, CarlosFilho.com. Trabalho como coordenador de mídia digital do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e do Seminário Internacional de Dança de Brasília, e atendo clientes em Goiânia e Brasília. Nos projetos pessoais, além do Rabiscaria, estou começando a formatar o modelo de negócios de um site de compartilhamento de conhecimento entre DJs. Esse é um outro projeto que ficou guardado na gaveta por uns 4 anos, mas que já estou colocando no forno. E também conseguimos aprovar na Lei Goyazes um projeto chamado Encontroteca, ligado ao Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que é um grande banco de dados online colaborativo sobre as manifestações de cultura tradicional e popular do Brasil.

5 - A inovação é uma característica sua?
Há uns anos atrás, todos os meus clientes me pediam as mesmas coisas. Queriam copiar isso ou aquilo de outro concorrente. Conversando com uma antiga parceira de trabalho em Brasília, vi que, se eu não inovasse, seria mais um dos milhares de designers que estão acomodados por aí. A partir daí, comecei a estudar sobre inovação, empreendedorismo, e resolvi que queria oferecer um diferencial inovador em todos os meus trabalhos, fossem eles profissionais ou pessoais. Tirei o foco do “ganhar dinheiro” e o coloquei na solução dos problemas. Prefiro tentar tirar do papel ideias malucas – mas que tem futuro – do que trabalhar em projetos em que não acredito. Não sou de reclamar de governo, da situação, dos clientes. Se vejo algo que precisa ser mudado, eu crio (ou pelo menos tento criar) alternativas para isso.

6- Não posso deixar de perguntar, suas referências quais são?
Não tenho nenhuma referência específica, o que me inspira é o mundo, é tudo que acontece à minha volta. Sou muito observador. Se vou a qualquer lugar, me interesso mais em observar as pessoas e suas reações do que propriamente interagir com elas. Leio muito sobre inovação e empreendedorismo, tento entender a geração Y, adoro arte urbana, ouço de música eletrônica a cantigas de folias de reis. Um dia, na pós-graduação, um professor deu uma aula sobre a história do design falando basicamente de música. Naquela aula, entendi que a inspiração pode estar em qualquer lugar, em um simples cartaz colado num poste ou em uma conversa com um mestre de congada.

7- Deixa um recado pra quem precisa de incentivo em um projeto bacana.
Em primeiro lugar, não deixe seu projeto na gaveta. Há muitas formas de colocá-lo em prática. Se ninguém quer te ajudar, faça sozinho, fique sem dormir alguns dias, mas faça pelo menos um piloto. Use a internet, use as redes sociais, espalhe a ideia e analise as reações. Depois disso, escolha a melhor forma de levá-lo em frente. Se o seu projeto é criativo, o Catarse é a melhor forma de levantar um financiamento colaborativo. Por último, saiba vender sua ideia. Se você é acredita nela, ninguém vai duvidar.


www.carlosfilho.com

carlos@carlosfilho.com